Primeiro de Outubro.
Não sei qual é a estação, mas o Sol queima a minha cara. Queima fundo, continuamente.

- Buzinas, passos, fumaça. -

O Sol queima-os também. Não os ilumina, fere-os. Consome-os.
Certa vez, li um livro sobre vampiros, e a comparação foi-me inevitável: os rostos distorcidos pela luz pungente, o breu interior, mesmo a carregar roupas claras sobre a carne crua, oca.
Nosferatus de nós mesmos. Hematófagos. Presos às caçadas, às disputas, ao tédio eterno.
Olhos enevoados, alma-gris.
Corpos devidamente violados pela fome, pela dor, pelo estupro mútuo.

Cinco horas. Compromissos. Não há atemporalidade para vampiros-humanos.
Beijo-os pela última vez, antes de enfrentar o Sol. O maldito Sol.

Que seja doce.