
Seis da tarde.
Eis-me aqui; novamente a caminhar pelo mesmo círculo doente de todas as noites.
Solidão, desapego, medo. Medo?
Talvez fosse tudo que eu queria sentir.
O medo tem cor, seja de sangue ou de céu. O medo tem cheiro, seja de flor ou de pólvora.
Qualquer pseudo-sentimento seria melhor que essa coisa branca, insípida e pegajosa que guardo aqui dentro.
Mas não, senhores. Não a tirem de mim. A dor seria equivalente a de um braço, que uma vez amputado, dói para sempre.
Dor-fantasma. Pulsante mesmo após vinte anos.
Beber? Cheirar? Ou suportar lúcida e amargamente o peso de uma (quase) vida?
Assim, eu vou. Com o sorriso costurado a arame farpado e a podridão interna maquiada com perfume francês.